Dieta

Mulheres que tomam a quantidade indicada de água, comem salada e não faltam um dia sequer na academia acenam para mim. Elas são lindas. Lindas, porque são magras.

Essas mulheres usam roupas apertadas. Saem de casa sem sutiã. Roupas masculinas as deixam muito sexys, assim como deixar de vez em quando de arrumar o cabelo. Elas se estressam de vez em quando com uma gordurinha a mais, mas nunca tiveram grandes problemas como sentar em banco pequeno demais. Ocupar mais espaço do que deveriam.

Essas mulheres me acenam. Me chamam sorrindo para participar do clube delas. Um clube onde os olhares masculinos são constantes, a comida vem em poucas quantidades e tudo parece espontâneo. Rimos comendo salada. Elas me acenam, sorrindo, mas uma cerca alta nos separa de sermos amigas para sempre. A cerca que me afasta dos meus sonhos. Tudo depende disso. Estar do outro lado da cerca é encontrar a felicidade plena.

Eu vejo elas. Eu desejo estar no lado delas. Eu quero aquilo. O corpo delas. A comida sem gosto. As roupas apertadas. Jejum de 20 horas. O gosto de acetona na boca.

Elas me acenam.

A cerca é alta. O chão é áspero e cimentado. Se cair tentando atravessar a cerca, vou me esfolar inteira. Talvez morra, dependendo da queda.

Elas ainda me acenam.

São muitas tentativas. Muitos tombos. Porém, eventualmente, consigo passar para o lado delas. Estou esfolada, dolorida e com alguns ossos quebrados. Meu cabelo está ralo, minhas unhas quebram e meu corpo agora é frágil.

Mas atravessei a cerca.

Antes mesmo de comemorar com essas mulheres, uma delas me pega pelo braço e aponta para o que não enxerguei ainda, o que está além delas. Não é uma cerca, é um muro. Maior do que a cerca anterior.

O único jeito de enxergar o outro lado é através de um buraquinho, muito disputado pelas mulheres que tanto sonhei ser.

No outro lado do muro tem outras mulheres. Mais lindas, mais magras e com menos comida ainda envolvida. Elas parecem felizes. O aspecto delas é perfeito.

E elas também me acenam.